O que seria a eficácia plena? Esta pergunta feita desta maneira deixa espaço para inúmeras interpretações. Plenitude está mais para uma sensação, que para um conceito em si. Para delimitar o espaço para abstrações, que se comece pelo simples: que a eficácia em si seja entendida como o simples alcance de um objetivo por hora. O esforço, os recursos empregados, o preço, todos estes ficam à parte. Ficarão ligados aqui apenas ao conceito de eficiênca. Porém, há um limite em que se pode separar na prática o eficiente do eficaz. Não há muito o que argumentar contra a idéia de que nada pode ser um objetivo válido a qualquer preço.
A flexibilidade da palavra "plenitude" pode ser bastante útil quando se quer definir um resultado cuja eficácia seja extraordinária. O que poderia ir além de se atingir um objetivo? Quem sabe produzir um resultado desejado com um esforço mínimo não seria a primeira linha de raciocínio? A maneira mais eficiente de se fazer algo seria, então, a escolha mais apropriada entre as possibilidades de produzir um efeito. O revés desso é que há uma enorme precariedade em se definir um conceito de uma maneira tão relativa assim.
Existe uma ação que se pode tomar no momento presente que não produz efeitos diretamente ligados a um resultado desejado. Seria um tipo de movimento que modifica as condições da situação ou ambiente em questão de maneira sutil, criando uma propensão para que o próprio processo natural crie o efeito desejado por si mesmo. Isso sim pode receber o nome de "ação de eficácia plena".
Os requisitos necessários para que uma ação seja classificada desta maneira seriam:
- A alteração do ambiente ao invés do objeto;
- O efeito realizado a montante, isto é, produzir resultado apenas no futuro;
- A não possibilidade de se fazer a conexão do autor ao efeito.
O general Sun Tzu em seu tratado sobre estratégia divulgado no ocidente pelo nome de "A Arte da Guerra" menciona a máxima de que "o mérito grande não se anuncia". O nome original do tratado é "os treze momentos do mestre Sun". O livro foi concebido como um manual prático para quem fosse exercer a função de general. Os "momentos" na realidade são como capítulos. Esta máxima em si está posicionada no quarto momento, mas nunca foi escrita pelo autor diretamente. Ela é apenas uma conclusão simples escrita em várias versões traduzidas da obra para tornar mais clara a comunicação do conceito. Este capítulo diz respeito ao "plano tático" e a explicação feita através de ilustrações conceitua especificamente este tipo de eficácia aqui sendo chamada de plena.
O mestre ilustra situações em que pessoas normalmente são reconhecidas pelo esforço, pela coragem e outros atributos gloriosos. Ele explica que o general que possui verdadeiro mérito, ou seja, aquele cujas ações são verdadeiramente eficazes certifica-se antecipadamente de que não há possibilidades de ser derrotado antes de ir para a batalha, prepara-se em todos os níveis, conhece todos os pontos fracos do inimigo. A conclusão que ele chega é de que este general será sempre percebido como alguém que somente trava batalhas fáceis, que não dependem de nenhum desses atributos reconhecíveis. Sun Tzu afirma que poucos são os que conseguem perceber a verdadeira competência deste militar, pois "seu mérito não se anuncia".
A guerra serve como uma boa ilustração para explicar a eficácia plena, porém há outras formas de fazê-lo. Segundo esta lógica, a pessoa mais importante de uma fotografia é aquela que não aparece na imagem, pois está segurando a câmera. Muita gente certamente vai começar a pensar nisso quando for pedir ao garçon para tirar a foto da turma na comemoração com os amigos. Parece que as gorjetas vão aumetar... A esta alura já deve ter quem esteja argumentando que es câmeras de hoje possuem "timer". A réplica é: isso não muda nada além do fato de que o fotógrafo arranjou um jeito de aparecer, mas ninguém além dos que estavam presentes sabe quem ele é ainda.
Os monges chineses têm por finalidade maior desenvolverem-se no processo de raciocínio de se agir em prol desta maneira de ser eficaz. Eles são reconhecidos por praticarem e criarem artes marciais. Um monge lutando pode parecer incoerente a princípio, mas elas entram na mistura tanto pelo objetivo de desenvolver eficácia plena, quanto como maneira de estudar os conflitos humanos pelo ponto de vista da forma mais primitiva de comunicação: o combate físico. A prática dos monges no que diz respeito à eficácia nada mais é do que "pensamento estratégico". Escolhe-se um ação que produzirá um efeito que seja meio, não finalidade. A capacidade de se escolher este objetivo "tático" com eficácia é a definição desta maneira de pensar estrategicamente.
Lendo isto até aqui é bem provável que se fique com a sensação de que não há por que não buscar se desenvolver nesta competência. Parecem não haver revezes. Em termos de produzir resultados sem dúvidas não há o que se discutir, mas em um mundo em que o valor percebido é a medida da recompensa, é preciso se tomar muito cuidado. Sem dúvidas não há que se falar em abrir mão desta conduta, mas não se pode ignorar a necessidade de se criar uma imagem conveniente. Uma opinião a colocar é de que o valor desta deveria transmitir sempre um estatus abaixo do limite da própria capacidade. Isto pode parecer estranho, pois é menos lucrativo que seu potencial. Porém, não passa de fazer ser percebido como um artista, ou solucionador de problemas que tem muita sorte. Na realidade, a pessoa cuidou de tudo, planejou, praticou, aprendeu e, na hora, tudo aconteceu para os espectadores como um passe de mágica!
Então...
Por que não simplesmente "vender" exatamente o que se fez?
Eis o "pulo do gato"! Porque para o "gênio" estratégico não há esforço considerável, apenas efeito. Explicar significa literalmente apenas demonstrar como as coisas aconteceram sozinhas. Se o autor nada fez, pelo que ele deveria ser recompensado? Internamente é possível saber que sem ele "a fotografia não teria acontecido", mas esta útima pergunta é o que 99% das pessoas faria. Isso significa que não faz sentido algum desejar glória por uma eficácia plena.