The Shadow Hunter

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Keep it Simple

quarta-feira, 28 de março de 2012

Reflexão sobre Amor e Compromisso

Uma canção celta que gostei muito de ouvir no arranjo e voz de Cecile Corbel me fez pensar sobre a diferença entre Amor que se diz sentir e o Amor que se entrega deliberadamente. Em meu pensamento, entendo o primeiro como o do conto de fadas, o do sofrimento, da tragédia e do preço que se paga pelo êxtase infinito de ser correspondido. Este Amor cria beleza e fantasia, ao mesmo passo que cria paixão, dor. Ele não serve para criar vida e alegria. O próprio Platão escreveu, dizendo que era mais uma discussão do Sócrates sobre futebol, dizendo que o Amor não é justo e bom. Curioso ele dizer isso...

Se me perguntarem sobre este Amor, eu julgo apenas como algo que torna a vida mais interessante. É um fator de desafio. Sem ele, depois que se resolve dez mil problemas de lógica, o resto das pessoas do mundo passa a não interessar. Acho que a gente acaba por se tornar um misantropo, ou no sentido sexual, misândrica ou misógino. Sem este, então, não “rolaria sexo” e nem humanidade.

Voltando para a canção de origem celta, vou citar o refrão a que me refiro, para que se note o quanto ele soa romântico ao extremo à primeira vista:

Till a' the seas gang dry, my dear

And the rocks melt wi' the sun

I will love thee still, my dear

While the sands o' life shall run.

Até que os mares sequem, meu querido

E que as rochas derretam com o sol

Eu ainda te amarei, meu querido

Enquanto as areias da vida puderem correr

Ao ouvir a música inteira e perceber que há muita alusão ao mar, a uma viagem que o personagem para quem esse amor se destina fará sem previsão de retorno, comecei a pensar: Isto não pode ser um sentimento simplesmente. Não o da moça destes versos. Isso soa mais como um compromisso!

Sabe aquele papo cristão de “na alegria e natristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te por todos os dias de minha vda”?

Olho bem de perto e concluo: “este é o juramento pessoal que estabelece a criação da instituição do casamento na cultura cristã.”

Ora, um juramento é um compromisso que se assume. Então, começo a pensar que poucos entendem de fato o que Vinícius de Moraes diz no "Soneto da Fidelidade". Todo mundo adora repetir os dois últimos versos:

“Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure”

Mas pouca gente lembra, que dirá explica os dois primeiros:

“De tudo ao meu amor, serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto...”

Ele coloca uma coisa em função de outra, e numa ordem irreversível:

Antes o compromisso, depois o sentimento.

Antes o dever da entrega, do zelo, depois permitir-se vivenciar o fenômeno.

Primeiro amar, ação efetiva, depois Amor, sentimento sublime!

O compromisso é o primeiro ato virtual de entrega quando se quer fazer algo acontecer, quando se quer produzir algo, instituir algo... Hoje em dia costumamos fazer isso por contratos, com direito a cláusulas de rescisão e a vícios redibitórios.

O compromisso de amar é um ato moral apenas. É essencialmente um juramento mesmo. Acho que deve ser esta a razão de uma “jura” ter código próprio. É um “salto de fé”, tipo filosófico clássico. Desta vez não sei dar nome ao pensador. A assinatura que você coloca no papel na Igreja ou no cartório, a ratificação do padre ou juiz de paz, as testemunhas, o anel que você coloca no dedo do outro(a), nada disso vai dar verdadeira fé ao seu ato ali. O compromisso é seu apenas: “Entregar tudo o que está contigo, mas que pertence àquela outra pessoa”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amor,qual desles?Sentimento amplo e mutavel...Qual vc esta falando,ou sentindo neste momento?Cris Reis

Unknown disse...

Grande Cris Reis! Suas palavras são definitivamente a pergunta certa para o autor deste post que você teve a paciência de ler com carinho! Cabe a mim ressaltar aos outros leitores deste blog que minha resposta aqui não está sendo para qualquer um. Acredito que poucos além de você, Cris, a compreenderão com facilidade.

Sua questão me submete a alusões sobre "cheio e vazio". Então penso sobre coisas que fluem, indo e vindo.

Acho que hoje sou um recipiente derramando meu conteúdo cuidadosamente sobre determinada xícara, permitindo-me esvaziar-me e seguir o "Caminho" que você sabe bem a que me refiro.

Acho que nunca antes tive mais valioso conteúdo e tão digno pote sobre o qual derramá-lo.

Não sei como o vazio que ficará será preenchido pelo devir, mas, por valor e comprometimento meus, posso te garantir que aquela que está a sorver do meu conteúdo jamais provará outro igual em toda a vida.