The Shadow Hunter

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Keep it Simple

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Minha visão inocente sobre um legado...


                 Uma vez andando pela rua perto do metrô de botafogo, eu vinha de cabeça baixa, pensativo e até meio melancólico. Eu presto muita atenção às pessoas na rua. Aprendi em algum momento que isso consegue me acalmar, me colocar em um mundo à parte e, com isso, me ajudar a lidar melhor com meus problemas mais internos. Não me lembro de sobre o que pensava, por que estava com o humor que estava, ou sequer o contexto da minha vida naquele momento. Mas eu me lembro de um criança de pouco mais de um aninho, chorando aos berros, sendo carregada no colo da mãe.
                Eu andava justo atrás das duas na rua. O rosto da criança estava virado para trás, justo em frente a mim.  Eu me lembro de olhar para ela, de achar ela a coisa mais linda, mais fofa e de dizer isso para ela com os olhos. Ela começou a me notar ainda chorosa e desatenta por alguns mínimos instantes, depois focou sua atenção, parou de chorar e, após me encarar brevemente, esboçou um sorriso sonolento, deitou a cabeça no ombro da mãe e ambas desceram as escadas para o metrô.
                Um momento singelo em minha vida, mas que me lembro com carinho, pois me fez ganhar o dia. O que será que eu fiz que acalmasse aquela criança? Será que fiz alguma coisa demais? Até hoje não sei responder a estas perguntas objetivamente. Só posso dizer que por um acaso, naquele momento, eu estava consciente do que eu queria, de quem eu queria ser para aquela situação e da finalidade que eu queria alcançar com minha tênue interação com a bebezinha. Será que eu exerci alguma influência de fato? Acho que não importa muito essa pergunta.
                Se algum dia eu vier a me casar e estiver pronto para ser pai, gostaria de ter duas crianças ao mesmo tempo. Não digo gêmeos, embora não rejeite a ideia, mas um gerado pela minha esposa, outro adotado no mesmo dia do nascimento do um. Fantasio em como seria gratificante criá-los juntos, em como eu poderia contribuir com eles e deixar um legado valoroso para o futuro. Sou branco e visualmente tipo caucasiano, embora carregue em meu sangue tanto índios, quanto negros legítimos. Se minha esposa não for pelo menos mulata, meu filho biológico será certamente de pele clara. Isso me faz ter uma ideia gostosa de fantasiar: adotar um filho de pele cor negra para compor uma dupla linda!
                Viver o momento de ser surpreendido pela esposa lhe dizendo que está grávida deve ser uma das lindas emoções que se pode ter. Claro, sendo dado que o casal esteja preparado e desejando a gestação. Se eu puder escolher, eu pedirei àquela que eventualmente venha a ser minha esposa, que não me avise quando decidir que quer engravidar, claro que a partir do momento em que eu disser que estou pronto e desejando ser pai. Deve haver aquele acordo mútuo afinal. Eu pedirei a ela que me surpreenda com alguma coisa sutil, como sapatinhos de bebê nos dedos ao acordar de manhã, um pedido sutil para que eu deite minha cabeça sobre sua barriga, qualquer coisa criativa que me faça chorar como um bebê!      
                Se eu tiver a honra de um dia ter este tipo de emoção, vou me sentir em débito com o indiferenciado, com a natureza, com Deus, com a humanidade, com tudo. Para quem eu posso fazer um bem tão grande quanto eu recebi ali, que já não seja objeto de meu compromisso original? Eis minha emoção em dobro em adotar o segundo filho, para ser criado em sintonia com o primeiro. A natureza criara algo que me ofereceu a experiência da beleza mais pura. Quanto honrado eu não seria de colaborar com ela, criando algo de volta para deixar como legado?
                Em por volta de duzentos anos, provavelmente todas as pessoas que eu conheci e conhecerei em minha vida já terão falecido. Nessa escala, a importância de diversas coisas muda bastante. A questão do legado a deixar é o que toma forma mais patente. As coisas do dia a dia, desta distância, começam a parecer muito mundanas. Pensando nisso de uma posição que espero ser bem distante do meu fim mesmo, o que eu quero é que nesse último dia eu possa lograr o êxito de dizer com legitimidade: “deixei um mundo mais belo do que aquele que encontrei ao chegar”. 

4 comentários:

Anônimo disse...

Ser pai,oque significa?,Gerar uma nova energia,o que esperar dela?Estar preparado,como assim,vc lembra.de.como iniciou a se deslocar pelo mundo,e será q estava preparado?Se lançar ao mundo,de onde?Sincronicidade,por que?E por fim,um presente surpresa de Hecat,qual caminho pegar,que surpresa me espera da surpresa que eu escolhi e acolhi,estou preparado?Mas lembrando surpresas gera surpresas....Cristiano Reis...

Casa dos Reis disse...

Bravo!!!

Entendo suas perguntas como deliberadamente retóricas.

São para ser constantemente respondidas.

Obrigado mais uma vez pelo comentário de excelente qualidade!

Anônimo disse...

Vc pesquisou sobre Hécat?,se não fez faça.....mas pesquise com profundidade e sem pré conceitos...e que Cérberus permita o seu trilhar pelas noites escuras .... Cristiano

Casa dos Reis disse...

O suficiente para achar compreendi sua preocupação, meu nobre!

Para te responder aqui, na tentativa de te dizer que estou bem, sem deixar de seguir nossas trocas cheias de arte e magia, cito:

"A guerra sempre foi a grande sagacidade de todos os espíritos que se ensimesmaram demais, que se tornaram profundos demais; mesmo no ferimento ainda existe poder curativo. Um dito cuja origem deixo oculta é meu lema a muito tempo: "increscunt animi, virescit volnere virtus". "Os espíritos crescem e a força viceja quando são feridos."

(Friedrich W. Nietzche - O Crepúsculo dos Ídolos - pág 1 prefácio. Ele cita o poeta Fúrio de Âncio, na frase lema.)